A Avalanche (AVAX) é uma plataforma de contratos inteligentes cujo crescimento exponencial em termos de adoção e capitalização de mercado em 2021 a credenciou como uma das principais candidatas a solucionar os problemas de escalabilidade e altas taxas de transação da rede Ethereum (ETH).
Mesmo com o primeiro trimestre de 2022 foi desfavorável ao mercado de criptomoedas de forma ampla e praticamente irrestrita.
O portal de pesquisa e análise de dados sobre a indústria de criptomoedas, Messari, publicou um relatório sobre o desempenho da Avalanche nos três primeiros meses deste ano para investigar de que forma a reversão da tendência do mercado afetou as seguintes métricas:
- Adoção por parte dos usuários;
- Engajamento por parte de desenvolvedores,
- Entidades da rede e fundos de investimento; e de atração de capital entre os investidores de criptomoedas.
Conheça a Avalanche (AVAX)
A Avalanche foi construída a partir de uma estrutura multi-chain – intituladas P, X e C – em que cada uma dessas redes cumpre funções únicas e paralelas para garantir o perfeito funcionamento do ecossistema.
Compatível com a Ethereum Virtual Machine (EVM), a Avalanche suporta todos os aplicativos descentralizados (dapps) implementados originalmente para a rede líder entre as plataformas dedicadas a contratos inteligentes, e utiliza um mecanismo de consenso baseado na Prova-de-Participação (Proof-of-Stake).
A segurança de redes baseadas em Prova-de-Participação como mecanismo de consenso exige que os validadores bloqueiem tokens nativos da rede em staking para executar a validação das transações, e receber recompensas por isso.
No entanto, ao contrário de outras redes que utilizam a Prova-de-Participação como mecanismo de consenso, os desenvolvedores da Avalanche criaram uma versão própria e original do PoS.
Denominada “Avalanche consensus“, o mecanismo tem como foco a escalabilidade, a robustez, a eficiência energética e a descentralização. Esse modelo de consenso faz com que as operações realizadas na rede tenham rapidez e baixa latência, aliadas a taxas de transação idealmente inferiores às de sua principal concorrente.
Os validadores da Avalanche não necessitam de máquinas específicas para rodarem os nós da rede – e isso contribui para a descentralização do ecossistema.
Ao final de 2021, a Avalanche contava com 1.138 validadores. Ao final de março deste ano, o número havia subido para 1.259 – um crescimento saudável de mais de 10%.
Já o número de delegantes – usuários que confiam seus tokens aos validadores sem participar diretamente das tarefas de validação em troca de recompensas em AVAX – cresceu 4,4%.
Estes números asseguram que o grau de descentralização da Avalanche está dentro da média de outras redes de camada 1.
Desenvolvimento do ecossistema
O final de 2021 foi um período de grande expansão para o ecossistema da Avalanche, impulsionado pela implementação da ponte com a Ethereum, por listagens nas maiores exchanges do mercado, pelo fechamento de parcerias de peso e pelo “Avalanche Rush”, um programa agressivo de mineração de liquidez com foco no desenvolvimento do ecossistema de finanças descentralizadas (DeFi) da rede.
À medida que investidores do varejo e institucionais aderiam ao ecossistema, a Avalanche registrou recordes históricos em número de endereços ativos, transações diárias, valor total bloqueado em protocolos DeFi e capitalização de mercado. Como resultado, o AVAX alcançou sua máxima histórica de US$ 146,22 em 21 de novembro.
Depois de um final de 2021 que consolidou a Avalanche entre as principais criptomoedas em termos de capitalização de mercado, as expectativas em torno da rede para 2022 eram altas. No entanto, o estado geral do mercado colocou em dúvida a capacidade de a Avalanche manter o mesmo nível de expansão.
Até o final de março, a Avalanche continuava em expansão, com avanços em projetos focados na infraestrutura da rede, enquanto os níveis de utilização do ecossistema e o desempenho financeiro se estabilizaram.
Embora o crescimento da capitalização de mercado nos meses iniciais de 2022 tenha sido modesto em comparação com o último trimestre de 2021, outras métricas mantiveram a tendência de alta. Particularmente, a média de transações diárias praticamente dobrou, com uma alta de 82,8%, enquanto a receita total do protocolo cresceu 72,7%.
Em números absolutos, a média de transações diárias aumentou de 473.000 no último trimestre de 2021 para 865.000 no primeiro trimestre deste ano – o equivalente a aproximadamente 74% do tráfego diário de 1,17 milhão de transações registradas pela Ethereum no período.
Fonte: Média de transações diárias na Avalanche. Fonte: Messari
Em meados de janeiro, o número de endereços ativos da rede atingiu a máxima histórica de 140.000, contribuindo para o crescimento da média de 70.000 registrada no último trimestre de 2021 para 92.000 durante o primeiro trimestre deste ano.
Fonte: Endereços ativos diários da Avalanche. Fonte: Messari
O crescimento substancial do número de transações diárias e de endereços ativos na rede resultou em um aumento de aproximadamente 72% das receitas geradas pela utilização da rede.
Devido a uma particularidade do sistema econômico da Avalanche, a receita gerada pelas transações realizadas na rede é integralmente queimada – e não distribuída entre os validadores –, excluindo o montante recolhido do suprimento em circulação do AVAX.
Em tese, esse mecanismo de fomento à escassez deveria beneficiar os detentores do token nativo da rede, pois o crescimento da receita gera pressão deflacionária sobre o AVAX.
A questão é que não se trata de uma relação automática. Somente quando o valor do token superar o componente meramente especulativo, consolidando-se em um determinado patamar, a tendência é que a correlação entre receita gerada e valor de mercado se estabeleça de forma consistente.
Ecossistema DeFi
O ecossistema DeFi da Avalanche recebeu um impulso adicional em 2022 com o lançamento do “Blizzard”, um fundo de US$ 200 milhões que veio a se somar com os recursos do “Avalanche Rush”. A partir de incentivos de US$ 2 milhõe em AVAX, a Pangolin (PNG), uma exchange descentralizada (DEX) baseada na Avalanche, se uniu ao Terra (LUNA) para introduzir o UST – a stablecoin do Terra – no ecossistema DeFi da rede.
Terceira maior stablecoin em termos de capitalização de mercado, a incorporação do UST significou um impulso adicional para uma adoção mais ampla tanto da moeda quanto para os protocolos de finanças descentralizadas da Avalanche.
Apesar disso, o valor total bloquedo (TVL) em protocolos DeFi baseados na Avalanche caiu 5,5% no primeiro trimestre de 2022 em comparação com o último trimestre do ano passado. Embora não se trate de um declínio substancial, foi o declínio do TVL dos principais protocolos DeFi do ecossistema que contribuiu para a retração.
Somando-se o valor total bloqueado dos três maiores protocolos da rede, o declínio foi bastante superior à média do ecossistema como um todo – 12%. Os protocolos de empréstimo Aave (AAVE) e Benqi (QI), e a DEX Trader Joe (JOE) registraram recuos em seus TVL de 4%, 18% e 20%, respectivamente. Em compensação, além da adoção do UST, novos projetos foram lançados e acabaram atraindo recursos para a rede, ainda que de forma mais pulverizada.
Entre eles, o maior destaque foi o Platypus Finance, uma DEX dedicada exclusivamente a stablecoins cujo crescimento do TVL ao longo do primeiro trimestre deste ano foi de 7.500%.
Sub-redes GameFi
O primeiro trimestre marcou o início dos aguardados lançamentos de sub-redes dedicadas a projetos GameFi no ecossistema da Avalanche. Apesar do hype em torno do lançamento do Crystalvale do DeFi Kingdoms, game originalmente baseado na blockchain da Harmony (ONE), “Crabada” acabou sendo o grande destaque do setor. Rapidamente, o game de cards de crustáceos cuja jogabilidade é similar à do Axie Infinity (AXS) ultrapassou os 5.000 usuários ativos diários. Por sua vez, o número de transações diárias cresceu de 60.000 para mais de 400.000. O volume diário de transações oscilou entre US$ 130.000 e US$ 1,5 milhão, e o TVL nos contratos inteligentes do game chegou a US$ 50 milhões no final do trimestre.
Concorrência
Em comparação com outras redes blockchain de camada 1 compatíveis com a Ethereum Virtual Machine, em geral o primeiro trimestre de 2022 da Avalanche registra desempenhos superiores aos dos rivais, exceto pelo líder Ethereum.
A Avalanche registrou o menor declínio em termos de capitalização de mercado, aproximando-se da BNB Chain (BSC), e afastando-se ainda mais da Fantom (FTM) e da Polygon (MATIC). A mesma tendência foi verificada no que diz respeito à geração de receitas diárias.
O número de transações diárias foi similar ao da Fantom e ficou nos níveis mais baixos entre as cinco principais redes de contratos inteligentes compatíveis com a EVM. Ainda assim, a média de transações diárias da Avalanche correspondeu a 74% da média da líder Ethereum.
O lançamento das novas sub-redes GameFi pode oferecer um impulso adicional nesta métrica específica e em um curto espaço de tempo é possível que o número de transações diárias da Avalanche supere o da Ethereum.
O valor total bloqueado em protocolos DeFi declinou durante o primeiro trimestre deste ano em correspondência ao comportamento mais amplo do mercado de criptomoedas. Embora a Avalanche não tenha ficado imune à queda, a redução do TVL da rede foi o segundo menor entre as cinco blockchains avaliadas, atrás apenas da Fantom. Ethereum, BNB Chain e Polygon, por sua vez, registraram saídas de capital de dois dígitos em termos percentuais.
Desafios futuros
Embora não mantenha um roadmap atualizado, a expectativa é que o ecossistema da Avalanche siga em expansão com a manutenção dos programas de incentivo a usuários e desenvolvedores e a implantação de novas sub-redes dedicadas a projetos GameFi.
O lançamento da Core, uma nova carteira não custodial para browsers e dispositivos móveis dedicada exclusivamente aos dapps da rede, está programado para acontecer ainda na primeira metade deste ano e é um incremento fundamental para potencializar a experiência dos usuários.
Por fim, a Ava Labs anunciou o lançamento de uma ponte nativa com suporte para o Bitcoin (BTC), que vai permitir que os usuários da rede transfiram e utilizem seus Bitcoins nos protocolos DeFi da Avalanche.
Além disso, estão previstas atualizações dos parâmetros de governança da rede.
Apesar da continuidade da evolução do ecossistema da Avalanche em 2022, o AVAX vem operando em queda desde o início do ano. Atualmente, está cotado a US$ 67, 54% abaixo de sua máxima histórica. Desde o início do ano, o token nativo da Avalanche já desvalorizou 38%, de acordo com dados do CoinMarketCap.